Nos dias de hoje, a sustentabilidade é um dos maiores desafios e responsabilidades tanto para empresas quanto para consumidores. O impacto ambiental dos produtos e serviços que escolhemos influencia diretamente o futuro do nosso planeta.
No entanto, com o aumento da demanda por soluções mais ecológicas, cresce também uma prática preocupante: o greenwashing. Essa estratégia enganosa envolve empresas que se dizem sustentáveis sem comprovar suas ações com dados ou certificações válidas — é, na prática, apenas uma máscara verde, e não sustentabilidade real. Para combater esse cenário, uma das formas mais eficazes é exigir documentação técnica e certificações ambientais reconhecidas.
O que é greenwashing?
Greenwashing é o uso de marketing para criar uma imagem falsa de responsabilidade ambiental. Muitas empresas adotam uma comunicação superficial, usando termos vagos como “100% natural” ou “eco-friendly”, sem qualquer comprovação técnica. Isso induz o consumidor ao erro, acreditando que está fazendo uma escolha consciente — quando, na verdade, está financiando práticas nocivas ao meio ambiente.
Essa distorção compromete a confiança em iniciativas sérias e prejudica o avanço de soluções sustentáveis reais. Por isso, é essencial que consumidores e empresas se apoiem em certificações confiáveis para separar discurso de ação.
Certificados: a garantia de uma sustentabilidade real
Certificações vão muito além do marketing. Elas representam comprovação técnica, por meio de auditorias independentes e testes laboratoriais, de que um produto, processo ou serviço cumpre critérios rigorosos de sustentabilidade, qualidade e segurança.
Exigir certificados válidos é a maneira mais segura de tomar decisões conscientes e fomentar um mercado mais transparente e comprometido com o futuro do planeta.
Entendendo as certificações: TÜV, ASTM, EN e SASO
TÜV
O TÜV é uma certificadora alemã que realiza inspeções e testes independentes. Produtos com esse selo foram avaliados quanto à segurança, desempenho e conformidade com normas técnicas internacionais. No caso de plásticos, por exemplo, o TÜV pode atestar resistência, toxicidade e impacto ambiental.
ASTM
A ASTM é uma instituição americana que define normas técnicas para testes de materiais e produtos. Em biodegradação, destacam-se:
ASTM D5511-18: avalia a biodegradação de materiais em ambientes anaeróbicos, como aterros sanitários.
ASTM D6954-18: avalia a degradação por oxidação e subsequente biodegradação no solo — especialmente relevante para plásticos oxi-biodegradáveis.
Importante: o número “18” indica que a norma foi atualizada em 2018. Certificados com datas anteriores estão desatualizados de acordo com o padrão vigente.
EN
As normas EN são padrões europeus estabelecidos pelo Comitê Europeu de Normalização (CEN). Em biodegradação, a mais relevante é:
EN 13432: determina se uma embalagem plástica pode ser considerada compostável — ou seja, se se decompõe totalmente em composteiras industriais, sem deixar resíduos tóxicos.
SASO
A SASO é a autoridade de normatização da Arábia Saudita. Sua certificação é obrigatória para comercializar produtos no país. O destaque aqui é que os Emirados adotaram políticas rígidas de banimento total de plásticos convencionais. Assim, um plástico certificado pela SASO não só atende critérios técnicos como comprova biodegradabilidade real e funcional, sendo aceito mesmo em mercados extremamente restritivos.
E no Brasil? Não temos nenhum órgão regulador?
Temos sim. No Brasil, a ABNT — Associação Brasileira de Normas Técnicas — é o órgão responsável por estabelecer normas técnicas em âmbito nacional. Fundada em 1940, é reconhecida pelo governo como autoridade oficial em padronização.
As normas emitidas pela ABNT são chamadas NBRs (Normas Brasileiras Registradas). Elas definem critérios mínimos de qualidade, segurança, eficiência e sustentabilidade. Embora nem todas sejam obrigatórias, muitas são exigidas por certificadoras, grandes clientes e órgãos reguladores — o que confere credibilidade e segurança jurídica para produtos e processos que as seguem.
Exemplo prático
A ABNT NBR 15448-2:2008 estabelece os métodos de ensaio para verificar se embalagens plásticas produzidas com materiais degradáveis ou de fontes renováveis podem ser classificadas como compostáveis. A norma tem como objetivo o reaproveitamento de resíduos pós-consumo, garantindo que esses materiais se decomponham de maneira eficiente em ambientes de compostagem adequados. O processo de avaliação inclui etapas como a biodegradação aeróbica (decomposição biológica na presença de oxigênio), a desintegração do material e a análise de possíveis impactos no processo de compostagem industrial. Esses testes seguem normas técnicas, como os definidos pela ISO 14855 e devem ser conduzidos em condições controladas de compostagem industrial, que no Brasil, ainda estão em fase de desenvolvimento.
Por que a ABNT e as NBRs são importantes?
Padronização nacional: Facilitam a comunicação técnica entre fornecedores, fabricantes, clientes e governo.
Segurança jurídica: Adoção de normas técnicas reduz riscos legais e facilita auditorias.
Reconhecimento de mercado: Demonstra comprometimento técnico e ambiental.
Base para certificações: Muitas certificadoras brasileiras usam as NBRs como referência.
E no caso dos plásticos biodegradáveis?
Como o Brasil ainda não possui uma norma técnica específica para plásticos biodegradáveis, a melhor estratégia é adotar normas internacionais consolidadas e acompanhar os esforços de instituições como o SENAI Mario Amato, que vêm trabalhando para criar uma metodologia nacional inspirada nas melhores práticas globais.
Conclusão
Em um mundo onde o marketing muitas vezes fala mais alto que os fatos, as certificações ambientais são mais do que um diferencial — são uma necessidade. Elas representam o compromisso real com a sustentabilidade, a segurança do consumidor e a transparência de mercado.
Em tempos de greenwashing desenfreado, confiar apenas em promessas é um risco. Já confiar em normas como ASTM, EN, TÜV ou SASO é optar por um caminho validado por ciência, auditoria e responsabilidade.
No caso dos plásticos biodegradáveis, essa exigência se torna ainda mais crítica. É preciso saber se o produto realmente se decompõe, em quais condições, em quanto tempo, e principalmente se isso ocorre sem gerar resíduos tóxicos. Cada certificação carrega um contexto técnico que precisa ser respeitado — seja no solo, em aterros, em composteiras ou nos oceanos.
A ausência de uma norma brasileira específica não é um impedimento. Seguir os padrões internacionais mais exigentes já é um caminho legítimo e responsável. Ao adotar e exigir essas certificações, sua marca se posiciona como parte da solução — e não do problema.
No fim, sustentabilidade verdadeira não se comunica com slogans, mas com provas. E certificados são as provas que o planeta, o consumidor e o mercado exigem.